quarta-feira, 26 de maio de 2010

Vidas condicionadas

Ganhei um verdadeiro presente esses dias. Grandes amigos me emprestaram um livro magnífico e dentro dele encontrei um prêmio.

O livro trata do "Despertar do Buda interior". No início achei que poderia ser informações jogadas ao vento e que eu não encontraria ressonância com minhas condições de vida e espiritualidade, pois não gosto de leituras de auto ajuda, não acredito na força externa quando se trata de auto conhecimento. 
Mas me deparei com uma maravilha de visão.

Buda, ao contrário do que muitos pensam, não foi um Deus, ele mesmo não se julgava assim, ele era um errante, eu amo essa definição. Errante é uma palavra grega que traduzida para nós torna-se "planeta". Os planetas são errantes, e nós somos os errantes dos errantes.

Buda, o errante, que antes era príncipe, deixou toda a riqueza de lado e foi buscar o seu "eu" dentro de si mesmo, mas antes, desfez-se dos vínculos externos que o cegavam. 
Aprendeu durante todo seu percurso que o mais importante para começar a procura de você mesmo é desvencilhar-se dos apegos, das aversões e prestar mais atenção ao mundo ao redor. Olhar o mundo com os olhos atentos, sem pré conceitos, ansiedades e expectativas, olhar simplesmente e sentir, ouvir o que o silêncio tem a dizer e buscar o seu lugar de origem, sua casa interna, você.

Em sua solitária trajetória, Buda percebeu que para viver sobriamente e satisfazer-se com a vida é necessário sabedoria, independente de suas condições econômicas, históricas... Isto pode parecer besteira, pois isso é dito desde o início dos tempos, por diversos filósofos,  pensadores...Mas Buda conseguiu o caminho para se atingir a sabedoria, e mais importante ainda, ele a definiu de uma forma que todos podemos alcançar.

Buda afirmou que a sabedoria tem duas interfaces, a compreensão e a intenção. A compreensão está dentro de você. Você é capaz de saber quem é, como se sente e se procurar com muito afinco encontrará suas mazelas e maravilhas. A sabedoria não é o conhecimento e a produção do saber propriamente ditos, a sabedoria é o auto conhecimento, este é o ponta pé inicial para ver com os olhos do coração.

A meditação é a forma de extrair informações de você mesmo, e meditar não é somente ficar em silêncio, pode também ser uma conversa com alguém que tenha boas coisas a serem ditas, pessoas que falam à alma, não aos ouvidos. São essas vivências que produzem em você a intenção.

A intenção é a forma como você conduz seu caminho, para onde vai, quais as prioridades e que sempre casam com sua compreensão de mundo, ou deveriam, para que você pudesse ser feliz de verdade. Se suas vivências são ruins, rotuladas, com idéias pré concebidas, ignorando o seu sentir, suas intenções podem não ser nada do que o levariam para sua casa, para dentro de você.

Daí a importância de ser fiel a você mesmo. Fazer de suas intenções, o reflexo da compreensão que tem de si  mesmo. E o primeiro passo é a compreensão. Quem é você? 
Muitas pessoas estão insatisfeitas com suas vidas, seja o trabalho, família, amigos, por não conseguirem atingir a correspondência entre o que são e as intenções de suas vidas. Muitas vezes não compreendem quem são e isso é a causa dos males da alma, das depressões, das insatisfações desmedidas.

O Zen budismo cita o "caminho do meio" como forma de atingir o auto conhecimento. Esse caminho é a forma de ilustrar que não há extremos, não é preciso sofrer para saber, nem ser feliz para atingir o "eu". Você precisa ser como você é quando está em silêncio.

Há momentos que nossa alma nos mostra pequenos indícios de puro êxtase. Momentos esses que somos quem éramos antes das vestimentas da sociedade. Para se ter uma idéia, as crianças são ditas puras porque ainda não são "produtos do meio" e são elas mesmas a maior parte do tempo. Quando crescem, como aconteceu conosco, só possuem poucos momentos de "clara luz", como se chama no budismo.
Esses momentos foram identificados por alguns estudiosos como o momento da morte, o sono profundo, o orgasmo e, acreditem se quiser, o espirro, o mais curto deles.


Não vejo nada de extraordinário e concordo com isso. Todos são atos involuntários, mas partiram de nós mesmos, são reações a uma determinada ação e promovem em nós mesmos espasmos de vida, somos mais do que nossos atos, somos nossa compreensão, somos nossos silêncios, nossas tristezas, nossos gritos.

Portanto, o primeiro passo é passar umas férias com você mesmo, olhar para dentro, esquecer as inimizades, os apegos, deixar de sentir aversões e acalmar-se. Perdoar a tudo e principalmente a si mesmo. Amar incondicionalmente, mas sem o preço de querer ter para si a pessoa amada. Ser livre é o começo. Sem apegos, sem ódios, amar.


Que todos estejam no caminho...





sexta-feira, 14 de maio de 2010

Tudo é relativo

Conheço um homem comum. Comum diante de toda a gente. Para ele, não se trata de um homem tão comum assim.
Trata-se de um Grande Homem, com inteligência acima da média, com grandes conquistas passadas, com histórias interessantes, com idéias geniais, com algo especial, incomum nas demais pessoas.

Mas...depois de tantos adjetivos sempre existe o "mas".
Os rótulos que existem, baseados em superficialidades do caráter humano, são falsos. Lembram-se do "Só se vê bem com o coração"?
Pois bem, os rótulos são perfumarias e nada mais...conceitos jogados ao léu...palavras ao vento...pó.

Benjamin Franklin, um suposto grande homem também, disse que para conhecermos alguém, basta dar lhe poder. 
Acredito que não precisemos de tanto. Dê ouvidos a ele, deixe-o falar, teste sua vaidade e poderá ter indícios do que se tem por dentro.

Com relação ainda ao mesmo homem que mencionei que conheço, alguém disse que, se um dia ele morrer, colocarão em sua lápide: "Foi um grande homem".
Eu inverteria, colocaria assim: "Foi um homem grande". Sua altura é assustadora, e eu não estaria mentindo.
Quanto ao "grande homem", não sei...meu referêncial é outro.

Eu conheci um grande homem. Seu nome era Laerte. Meu tio Laerte. Nome grego que significa formiga. A formiga é admirada por diversas civilizações, pela Grega especialmente por significar "o que salva o povo, o levantador de pedras".
Ele foi um cristão. Nunca o vi jogar palavras torpes, suas críticas eram construtivas, amava seu próximo de uma forma incontestável. Serviu a todos que conhecia e não conhecia, pelo simples prazer de fazer o bem, sem qualquer distinção. Fazia caridade até com seu olhar.
Sua voz já demonstrava amor, carinho e suas idéias eram sempre "visuais", tudo resplandecia luz, felicidade, amor, verdadeiro amor, incondicional.

Diante daquele que se auto intitula "grande homem" eu não pude deixar de lembrar de meu tio Laerte. Faleceu dia 17 de novembro de 2008, após dois anos de luta contra o cancer. Deixou três filhos, já encaminhados na vida, e minha tia que ainda chora.

Quando estive de frente com o pobre "grande homem", que defendia a tese de ter sido o suprassumo da sociedade de sua época, agradeci a Deus por conseguir me calar. Quando não se conhece o céu, sonha-se com o inverno e isto é tido como bom.
Nada como aqueles que estão despidos de orgulho e fazem o que têm que fazer sem ter a necessidade de aplausos.

Eu fico triste quando presencio acontecimentos que me machucam a alma e acabo por não ser tão direta quanto gostaria. Sinto-me culpada por não defender as pessoas, que por simplicidade, deixam-se levar pelos rótulos, rebaixando-se a si mesmos como se merecessem.

Não é questão de omissão, a diplomacia é importante para poder dormir à noite.

Mas sinto que minha diplomacia está se esgotando...e meu medo é ...Quando? Com quem?