sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Minha leitura

Não alimente seus dragões
zombe deles
não se intimide
olhe nos olhos
avance
encare, ouça, fale, sinta, sirva-se ...tenha paz
olhe amando, sinta abraçando, perdoe sem sentir
Se for chamado vá
Se houver tempestade, pare
se passar, prossiga
olhe para trás, sinta o que é, acredite no que virá.

Era para ser fácil...

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Um sino de cristal...

Ela é frágil. 
Movida ao bel prazer do vento...como se fosse uma barco a vela.
Quando falta o vento e vem o medo de afundar, tudo fica mais claro.
As prioridades são realçadas, as pessoas são todas iguais e é fácil amar, perdoar e encontrar um porto seguro dentro de si.
Quando se vê de perto o fim da vida de alguém que se ama com a alma, tiramos as amarras e as falsas aspirações.
Vi meu pai no limite entre a vida e a morte e percebi que é isso mesmo, cruel do jeito que é, a possível perda de alguém. Ali, no meio da tempestade, fui amparada por pessoas que não soube o nome, mas souberam me abraçar, não só a mim, mas a toda minha família. 
Foram momentos de resgate. Resgate de nossa essência. 
Foi uma grande lição. 
Fui movida pela fé, pela vontade e pela compreensão que tudo é possível, quando se acredita.
A fé é bálsamo sagrado, é remédio de cura certa, é confiança, é paz.
Mais uma chance foi dada e da forma mais bonita possível...e agora vejo sem pensar.
Nada é por acaso, tudo é o caminho.
Vida ajustada, novo referencial.
Sou grata às tempestades, elas limpam o tempo.

Saudades de meus amigos, todos eles...







quinta-feira, 10 de junho de 2010

Não importa o título, mas a energia

Há uma historia sobre a amizade de um menino e  um vizinho idoso cuja única forma de se expressar era por meio de sorrisos,  por causa de sua deficiência para falar. 

O menino, hoje um senhor, conta que não se lembra dos demais vizinhos, das crianças da época, mas do nobre sorridente lembra-se de tudo, nome, endereço, apelido, a cor do casaco, o dia da feira e hora da sua caminhada. 

Os olhares afetuosos, os gestos simples e a grande bondade com que ouvia as histórias do menino, fizeram com que pouco importassem as palavras, o essencial estava nas entrelinhas...

A comunicação é a mais bela forma de energia e não se limita apenas às palavras. Comunicar-se verdadeiramente precisa de linguagem corporal, emoções, gestos, contato visual, expressões faciais e empatia.

Muitas vezes não precisamos de palavras, tente lembrar-se de pessoas que você mantém um relacionamento com acenos, sorrisos. Pode ser a moça da padaria, o rapaz que sempre está na quitanda, o senhor da portaria.
Trocamos energia o tempo todo e no fundo de nosso ser estamos conectados a todos e somos responsáveis pelo bem estar de toda uma comunidade. 

Os animais também se comunicam de uma forma mágica. Lola, cachorrinha de casa, sorri quando nos vê. Não precisa de um discurso para nos mostrar o quanto fica grata com nossa presença.

Mesmo não conhecendo uma certa pessoa, sorria para ela, isso pode modificar o curso desta neste dia. Você terá feito o que de maior pode fazer: caridade, amor, renovação de energia.

Experimente exercer seu magnetismo. Fique atento à oportunidade de ação. Quando estiver diante de alguém prestes a perder a compostura, disponha a ajudar, nem que isso seja imensamente penoso. Olhe nos olhos e peça explicações com interesse e amor. Compreenda o ponto de vista de alguém que está no meio da tempestade e arranque-a de lá, pelas mãos, olhando nos olhos com firmeza e passe a sincera emoção de que você tem parte nisso tudo e está disposto a ajudar, sempre.

Fale com todos os seus sentidos e terá mudado o dia de alguém. Não tem preço a sensação de tirar um peso de um amigo, de um desconhecido, de um passante.

Mesmo que isto lhe reverta em uma dor de cabeça, um atraso, uma roupa suja...nada disso importa. Fale com todo o seu corpo e terá iluminado seu dia e o impagável bem estar de um semelhante.

Muitas vezes na vida não há lugar para as palavras. As entrelinhas de nossas ações não verbais contribuem com grandes doses de alegria e profundidade para nossas vidas. 

" O SEU SILÊNCIO RESSOOU COMO UM TROVÃO"
por um monge budista

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Vidas condicionadas

Ganhei um verdadeiro presente esses dias. Grandes amigos me emprestaram um livro magnífico e dentro dele encontrei um prêmio.

O livro trata do "Despertar do Buda interior". No início achei que poderia ser informações jogadas ao vento e que eu não encontraria ressonância com minhas condições de vida e espiritualidade, pois não gosto de leituras de auto ajuda, não acredito na força externa quando se trata de auto conhecimento. 
Mas me deparei com uma maravilha de visão.

Buda, ao contrário do que muitos pensam, não foi um Deus, ele mesmo não se julgava assim, ele era um errante, eu amo essa definição. Errante é uma palavra grega que traduzida para nós torna-se "planeta". Os planetas são errantes, e nós somos os errantes dos errantes.

Buda, o errante, que antes era príncipe, deixou toda a riqueza de lado e foi buscar o seu "eu" dentro de si mesmo, mas antes, desfez-se dos vínculos externos que o cegavam. 
Aprendeu durante todo seu percurso que o mais importante para começar a procura de você mesmo é desvencilhar-se dos apegos, das aversões e prestar mais atenção ao mundo ao redor. Olhar o mundo com os olhos atentos, sem pré conceitos, ansiedades e expectativas, olhar simplesmente e sentir, ouvir o que o silêncio tem a dizer e buscar o seu lugar de origem, sua casa interna, você.

Em sua solitária trajetória, Buda percebeu que para viver sobriamente e satisfazer-se com a vida é necessário sabedoria, independente de suas condições econômicas, históricas... Isto pode parecer besteira, pois isso é dito desde o início dos tempos, por diversos filósofos,  pensadores...Mas Buda conseguiu o caminho para se atingir a sabedoria, e mais importante ainda, ele a definiu de uma forma que todos podemos alcançar.

Buda afirmou que a sabedoria tem duas interfaces, a compreensão e a intenção. A compreensão está dentro de você. Você é capaz de saber quem é, como se sente e se procurar com muito afinco encontrará suas mazelas e maravilhas. A sabedoria não é o conhecimento e a produção do saber propriamente ditos, a sabedoria é o auto conhecimento, este é o ponta pé inicial para ver com os olhos do coração.

A meditação é a forma de extrair informações de você mesmo, e meditar não é somente ficar em silêncio, pode também ser uma conversa com alguém que tenha boas coisas a serem ditas, pessoas que falam à alma, não aos ouvidos. São essas vivências que produzem em você a intenção.

A intenção é a forma como você conduz seu caminho, para onde vai, quais as prioridades e que sempre casam com sua compreensão de mundo, ou deveriam, para que você pudesse ser feliz de verdade. Se suas vivências são ruins, rotuladas, com idéias pré concebidas, ignorando o seu sentir, suas intenções podem não ser nada do que o levariam para sua casa, para dentro de você.

Daí a importância de ser fiel a você mesmo. Fazer de suas intenções, o reflexo da compreensão que tem de si  mesmo. E o primeiro passo é a compreensão. Quem é você? 
Muitas pessoas estão insatisfeitas com suas vidas, seja o trabalho, família, amigos, por não conseguirem atingir a correspondência entre o que são e as intenções de suas vidas. Muitas vezes não compreendem quem são e isso é a causa dos males da alma, das depressões, das insatisfações desmedidas.

O Zen budismo cita o "caminho do meio" como forma de atingir o auto conhecimento. Esse caminho é a forma de ilustrar que não há extremos, não é preciso sofrer para saber, nem ser feliz para atingir o "eu". Você precisa ser como você é quando está em silêncio.

Há momentos que nossa alma nos mostra pequenos indícios de puro êxtase. Momentos esses que somos quem éramos antes das vestimentas da sociedade. Para se ter uma idéia, as crianças são ditas puras porque ainda não são "produtos do meio" e são elas mesmas a maior parte do tempo. Quando crescem, como aconteceu conosco, só possuem poucos momentos de "clara luz", como se chama no budismo.
Esses momentos foram identificados por alguns estudiosos como o momento da morte, o sono profundo, o orgasmo e, acreditem se quiser, o espirro, o mais curto deles.


Não vejo nada de extraordinário e concordo com isso. Todos são atos involuntários, mas partiram de nós mesmos, são reações a uma determinada ação e promovem em nós mesmos espasmos de vida, somos mais do que nossos atos, somos nossa compreensão, somos nossos silêncios, nossas tristezas, nossos gritos.

Portanto, o primeiro passo é passar umas férias com você mesmo, olhar para dentro, esquecer as inimizades, os apegos, deixar de sentir aversões e acalmar-se. Perdoar a tudo e principalmente a si mesmo. Amar incondicionalmente, mas sem o preço de querer ter para si a pessoa amada. Ser livre é o começo. Sem apegos, sem ódios, amar.


Que todos estejam no caminho...





sexta-feira, 14 de maio de 2010

Tudo é relativo

Conheço um homem comum. Comum diante de toda a gente. Para ele, não se trata de um homem tão comum assim.
Trata-se de um Grande Homem, com inteligência acima da média, com grandes conquistas passadas, com histórias interessantes, com idéias geniais, com algo especial, incomum nas demais pessoas.

Mas...depois de tantos adjetivos sempre existe o "mas".
Os rótulos que existem, baseados em superficialidades do caráter humano, são falsos. Lembram-se do "Só se vê bem com o coração"?
Pois bem, os rótulos são perfumarias e nada mais...conceitos jogados ao léu...palavras ao vento...pó.

Benjamin Franklin, um suposto grande homem também, disse que para conhecermos alguém, basta dar lhe poder. 
Acredito que não precisemos de tanto. Dê ouvidos a ele, deixe-o falar, teste sua vaidade e poderá ter indícios do que se tem por dentro.

Com relação ainda ao mesmo homem que mencionei que conheço, alguém disse que, se um dia ele morrer, colocarão em sua lápide: "Foi um grande homem".
Eu inverteria, colocaria assim: "Foi um homem grande". Sua altura é assustadora, e eu não estaria mentindo.
Quanto ao "grande homem", não sei...meu referêncial é outro.

Eu conheci um grande homem. Seu nome era Laerte. Meu tio Laerte. Nome grego que significa formiga. A formiga é admirada por diversas civilizações, pela Grega especialmente por significar "o que salva o povo, o levantador de pedras".
Ele foi um cristão. Nunca o vi jogar palavras torpes, suas críticas eram construtivas, amava seu próximo de uma forma incontestável. Serviu a todos que conhecia e não conhecia, pelo simples prazer de fazer o bem, sem qualquer distinção. Fazia caridade até com seu olhar.
Sua voz já demonstrava amor, carinho e suas idéias eram sempre "visuais", tudo resplandecia luz, felicidade, amor, verdadeiro amor, incondicional.

Diante daquele que se auto intitula "grande homem" eu não pude deixar de lembrar de meu tio Laerte. Faleceu dia 17 de novembro de 2008, após dois anos de luta contra o cancer. Deixou três filhos, já encaminhados na vida, e minha tia que ainda chora.

Quando estive de frente com o pobre "grande homem", que defendia a tese de ter sido o suprassumo da sociedade de sua época, agradeci a Deus por conseguir me calar. Quando não se conhece o céu, sonha-se com o inverno e isto é tido como bom.
Nada como aqueles que estão despidos de orgulho e fazem o que têm que fazer sem ter a necessidade de aplausos.

Eu fico triste quando presencio acontecimentos que me machucam a alma e acabo por não ser tão direta quanto gostaria. Sinto-me culpada por não defender as pessoas, que por simplicidade, deixam-se levar pelos rótulos, rebaixando-se a si mesmos como se merecessem.

Não é questão de omissão, a diplomacia é importante para poder dormir à noite.

Mas sinto que minha diplomacia está se esgotando...e meu medo é ...Quando? Com quem?

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Tempo meu

Manhãs, recomeços, promessas, mudanças...
As horas passam...o entardecer trás os destroços...
Silêncio...paliativo, o tempo, a cura.
As noites, más conselheiras, tempo relativo, expansão d'alma, viagem perigosa.
Deficiência química? Dor n'alma?
Seguem os dias...
É possível desconhecer a si próprio?
O que falta?
Qual a dor?
O que é preciso?
Seria a crise do "meio do caminho"?
Sabe-se a direção, mas não o destino.
Há dias de luz...e dias de sombra.
Sombras, não se sabe o quanto vale sem a luz.
Tempo, tempo, tempo...
Eis o que tenho de meu, inalienável.

PS: Pintura "O grito" de Edvard Munch, feito aos 30 anos de idade do pintor, retrata a decepção que enfrentava quanto aos fatos gerais da vida.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

O silêncio


Arruma a desordem, acalma, revigora.
É saber que o tempo auxilia o encontro de paz.
A melhor estratégia para amenizar conflitos.
Palavras jogadas ao vento reverberam. 
Nada como o silêncio que acalma, apazigua, esclarece.
Eu li em algum lugar "é preciso calar para falar", não me lembro onde.
Eis um fato.
Cale-se na hora exata e terá dito muito. 
É no silêncio que os ruídos internos se fazem ouvir. 
É dessa forma que o julgo falso se mostra.
É, sem dúvidas, que entre tropeços que o homem olha mais para o chão, menos para o céu. 
Mas é em silêncio que conclui. 
O silêncio é democrático.
Não pede nada, não induz, não castiga.
É libertador, companheiro, cúmplice.
É um bálsamo.
É a visão real, sem pesos e julgamentos.
É a calmaria.
É o porto seguro, o colo de mãe.
É uma oração, sem pedidos.


segunda-feira, 12 de abril de 2010

Superficialidades

Como é triste estar diante de um ser vazio.
Vazio de amor, de compaixão, de esperança, de honestidade, de benevolência.
Como eu queria que estas pessoas olhassem para dentro de si e conseguissem ver o que falta.
Eu sinto dor pela dor que causam.
Pessoas por cima da carne, apenas carne por dentro, nada mais...
E como não bater de frente com as superficialidades que tentam te fazer engolir?
Como apenas só balançar a cabeça e concordar diplomaticamente com absurdos que só um ser humano superficial poderia dizer?
Não sei deixar "passar", não sei me calar, não consigo ignorar e muito menos me conformar pelo desamor de muitos.
As aparências, nada mais.
Como é difícil conviver com pessoas assim.
Mas o que tanto me incomoda além do tal desamor às pessoas?
Acho que também a falta de resgate. Sim, quando respeitamos às pessoas, sentimos um processo de resgate, sabemos o valor da história e dependente do que nos digam, o que você ouve muitas vezes é questão do histórico de cada ser humano.
Não tem como não respeitar a história de vida de cada ser. Não tem como sentir indiferença pelo ser humano.
Eu me questiono se essas pessoas que apenas gostam de "ter" e não "ser" podem ser chamadas de seres humanos!
Revolto-me com os hipócritas, os diplomáticos vazios, os ditadores de algo nada válido. Ditadores da superficialidade.
Convivo com muitos deles e não consigo deixar de me incomodar, sou humana, falível, tenho sangue nas veias, e ele ferve a cada golpe cruel.
Eu não me calo, eu ouço e analiso e quando vejo fel eu me defendo como deve ser.
Estou cansada de caras e bocas. Quero almas, quero pessoas de verdade, aquelas que olham nos olhos e deixam se levar pela emoção de admirar ou se indignar por algo.
Cansei dos ensaios dissimulados dos vazios, dos seres superficiais que cruzam sempre nossos caminhos.
Meu maior defeito pode ser dar muito valor para eles, mas o fato é que se eu pudesse, faria deles algo melhor, se eu também o fosse.
Odeio desistir das pessoas, nunca faço isso, mas me corroo por dentro, luto contra meus "brios" e sigo em frente.
Deixarei o olho do furacão passar...o rastro é inevitavel.


Todas as calamidades que vemos acontecer é fruto do abandono, da crueldade, da falta de compromisso, da corrupção.
É o desamor imperando entre os maiores. Estamos à deriva.
E tenho a triste impressão de que por onde andamos, a maior parte das pessoas, principalemente as que detêm algum tipo de poder público, são superficiais. Agem pelas aparências, fazem para serem lembrados, falam muito para serem notados...nada mais.

Hoje, posso ter exagerado no fel.
É fácil ser radical quando se está sangrando.

Te encontro enfim


Há vários tipos de solidão.
A mais radical de todas elas é quando se está absolutamente só, sem ninguém por perto.
Há outra, a que não adianta estar acompanhado, vive-se só por não ter alguém específico e como ninguém é substituível, acaba-se concordando que está só.

Mas tem outro tipo ainda, que conheço bem.
A solidão sorrateira, aquela que nos dá a aparência de estarmos muito bem amparados, pois o "alguém específico" está ali perto.

O estar perto pode não significar muita coisa. Principalmente quando o alimento das almas são muito diferentes.

Sofro da solidão sorrateira, quando eu menos espero ela se faz presente e vejo o quanto estou sozinha. Não se trata de um exemplo, trata-se de um estopim, a gota d'água. Quando isso acontece, constrói-se uma cicatriz. Pode ela permanecer fechada, mas na menor das doenças d'alma, ela se revigora e volta a doer. 

Sentir-se só dessa maneira não é questão de capricho, é como se abríssemos uma gaveta de várias solidões passadas e não resolvidas, para acrescentar mais uma, e então, vemos todos as outras que estão guardadas...

Mas há sempre um consolo, ou uma explicação:

"Enquanto não superarmos
a ânsia do amor sem limites,
não podemos crescer
emocionalmente.

Enquanto não atravessarmos
a dor de nossa própria solidão,
continuaremos
a nos buscar em outras metades.
Para viver a dois, antes, é
necessário ser um."

Fernando Pessoa



quinta-feira, 8 de abril de 2010

Intolerância-fria

"A lei de ouro do comportamento é a Tolerância mútua, já que nunca pensaremos todos da mesma maneira, já que nunca veremos senão uma parte da verdade e sob ângulos diversos".

Mahatma Gandhi


Houve um tempo em que a tolerância nem era definida, pois a prática não existia, então qual o porquê de defini-la?
Esse tempo foi marcado por atrocidades, assassinatos...Quem nunca ouviu falar em Inquisição?
Quantas obras se perderam queimadas no fogo da intolerância?
Galileu só não foi morto por causa da ajuda de um amigo bispo influente, pois fora obrigado a pedir perdão à Igreja por ter "pecado" e colocado o planeta Terra num lugar subordinado ao Sol.

E hoje giramos em torno do sol, naquela época não, era o sol que girava em torno da Terra.
E foram muitas as Inquisições, todas com o desejo ardente de calar àqueles que de alguma forma eram vistos como ameaça à instabilidade de alguma estrutura politica, social ou religiosa.

A inquisição acabou em partes: pelo menos não sabemos de casos de pessoas que são queimadas na fogueira ou listas de livros proibidos...opa...isso existe sim! Não sabemos de casos de queimados ou mortos, eu disse "não sabemos", o que não sisgnifica que não exista. Mas muitos livros proibidos de antes, ainda são proibídos hoje e muitos estão em poder da Santa Igreja Católica!!!

Há também relatórios do exército brasileiro sobre sei lá que estudos (E. T?) e que são de direito do conhecimento da população, mas que nada....tudo preso dentro dos exércitos...pelo menos é o que dizem.

A inquisição existe sim, e não só em forma de textos proíbidos, e podemos chamá-la de Inquisição-fria. É como a Guerra. Horrores aconteceram e depois que a Guerra acabou as coisas continuaram por debaixo dos panos. Começou a Guerra-fria. Período tenebroso em que não se sabia ao certo o que estava acontecendo, silêncio demais.

Podem falar o que quiserem sobre teoria da conspiração. Não se trata disso.
O fato é que existe a Inquisição moral. A forma como as pessoas podem defender idéias pode fazer surgir, em seu oponente, uma força visceral de combater uma idéia.

É muito bonita a filosofia de que temos liberdade de expressão, mas não é bem assim, sempre há um preço a se pagar, principalmente quando se vai contra os dinossauros, contra os donos da bola.

Imagine alguém fantasiado de vaca invadindo o prédio da ONU gritando que nós não somos culpados pelas Mudanças Climáticas!
Corra atrás dos Criacionistas e fale que Darwin era genial e sacou tudo!
Diga aos católicos que o santo sudário tem a cara de DaVinci e não de Jesus!
Vá à Barretos, numa festa de rodeio, e grite no microfone que rodeio é coisa de acéfalos!
Fale às pessoas que você acha que os animais possuem senciência!
Apoie o bem-estar animal!
Defenda uma árvore em praça pública!
Recite um poema no metro, na hora do rush!
Afirme aos ortodoxos de uma área estagnada que a técnica utilizada é ultrapassada!

Arrisque-se para ver o preço que pagará. Quando se diz a poucos, num pequeno grupo conhecido, as máscaras se mantêm.
Quando se diz para uma maioria que se opõe ao que você pensa, acredite, suas chances de ser trucidado são altas. Quando um só ouve, nada poderá sofrer. Mas quando muitos param para ouvir o que não concordam algo acontece, eles ganham força e a alimentação recíproca dos egos cegam a todos e surge o inevitável: a intolerância que antes estava presa por não encontrar força suficiente para se mostrar!


Estamos na época da Inquisição fria, movida pelos egos inflados dos intolerântes às opiniões contrárias. Não consigo entender se estas pessoas realmente acreditam  cegamente no que pensam, ou se não podem mais mudar de trajetória, não podem atestar que erraram, ou não querem ficar no grupo da minoria.

O meu "termomêtro" para identificar um "crente ortodoxo" e nada liberal é a paixão em tentar nos convencer do contrário.

"A razão é filha do tempo e tudo espera de seu pai."
Voltaire                               

Eu não preciso de certezas, não abraço nenhuma delas, apenas traço esboços, só não abro mão do tempo.
                           


domingo, 4 de abril de 2010

Um pequeno paralelo de uma grande Filosofia

Um vasto campo, pronto para ser semeado. Receberá sementes de uma erva rara capaz de curar, de produzir conhecimentos, de dar prazer, esperança, caridade, paz e tudo o que for necessário. A erva mais importante de todos os tempos.

O trabalho foi duro, dias de semeadura de sol a sol, tinha que ser assim, é condição inicial para que tudo dê certo. Foram muitas mãos, muito sangue e suor.

O tempo passou e o crescimento era lento, muito lento, anos se passaram. Desde o início foi feito de tudo para que as ervas brotassem sadias, fortes. Não havia nada que pudesse atrapalhar. A terra foi analisada para que não houvesse nenhuma contaminação e as grandes e fortes mãos "viram" que aquela terra era virgem, pura, não continha nenhum cisto que pudesse dar origem a doenças ou ervas daninhas.

O controle de qualidade inicial foi exemplar. Mas nada disso impediu que as sementes brotassem de forma diferente uma das outras. Muitas fizeram juz ao investimento do início, outras, não se sabe quantas, sofreram mutação, ou nasceram assim. O fato é que eram diferentes e nada disso foi planejado.

Todas as sementes tinham a mesma aptidão para a manifestação de certas propriedades benéficas, mas não foi assim que aconteceu.

Passado o susto inicial, as grandes mãos se reuniram. Com muita sobriedade e organização conseguiram identificar três soluções para que a colheita pudesse ser feita no futuro.

A primeira solução era retirar imediatamente da terra, as ervas modificadas. Mas alguém disse: "não será rápido, teremos muito trabalho pois não temos a garantia de conseguir e não sabemos quantas são, podem ser mais ou menos do que conseguimos ver. E também, retiraríamos muita cobertura da terra caso o número seja grande, o que acarretaria problemas para as ervas sãs, e se forem em pequeno número, demoraríamos muito tempo a percorrer toda a terra para descobrir que não se passa de número pequeno, nada ameaçador". Todos concordaram. Essa opção foi descartada.

A segunda opção era esperar que cresçam e na colheita fazer a separação. As ervas boas seriam utilizadas para novas populações e as ervas mutantes seriam queimadas, para que não houvesse contaminação de outras terras. Mas alguém disse: "tinhamos certeza de que as ervas eram puras e no entanto houve essa mutação. Quem nos garante que isso não está dentro delas? Isso provavelmente irá acontecer sempre, precisamos apenas saber qual a porcentagem dessa ocorrência. Lembrem-se que o solo era puro, e tinhamos certeza, portanto, economizemos nossas forças e nossas chances de mudanças, pois essas ervas que agora nos parecem nocivas podem ter alguma serventia". Todos concordaram novamente. Não seria cabível queimá-las. É um novo material, digno de ser estudado.

A terceira e última opção era que deixassem as ervas crescerem juntas e que colhessem apenas o que precisassem. Pois um dia, alguém mencionou, as mais fortes irão excluir as mais fracas e se por algum motivo as duas se equivalerem em termos de domínio da terra, é hora de verificar se a terra era mesmo pura, ou se as ervas são realmente tão diferentes assim, pois as aparências enganam a maior parte das vezes e isso pode ser um indício de pré conceitos. Dessa forma, as mãos responsáveis escolheram essa opção.

E cá estamos nós, crescendo todos juntos. Ainda não sabemos que tipo de erva somos, uns julgam serem ervas puras, outros preferem não questionar. O fato é que nem conseguimos saber se estamos na bancada da maioria, e o melhor de tudo é que deixaram a gente por aqui com uma carga generosa do tal do "livre arbítrio".

Tem muita erva sendo colhida, ainda mais em épocas de calamidades...e quando chegar a minha hora, espero ter feito bom uso do tempo que me foi dado. E verei qual será minha serventia e de qual semeadura participarei.

um paralelo apenas...bem pequeno...sem detalhes...




quinta-feira, 1 de abril de 2010

Invisível aos olhos

Quando me vi de longe, percebi o quanto não sou aquelas de lá.
Foram pessoas passando, épocas passando e medos vencidos.
Há medos persistentes, dores que não acabam, lembranças que doem sempre.
Fui muitas numa vida só.
Quebrei meus próprios paradigmas, utilizei da vida e me construi aos poucos.
Construi o que hoje sou, nada de perfeito, nada finalizado.
Mas vejo um pouco mais do que via antes.
Já não tenho tanta ansiedade como tinha em outros tempos.
Consigo pensar mais antes de agir.
Já não fico eufórica diante de uma ótima notícia, eu busco a estabilidade, pois tudo é efêmero.
Hoje choro mais, amo mais e falo mais às pessoas o quanto gosto delas.
Quando olho para aquelas que se foram não as reconheço.
Eram repetições do meio.
O meio determina o homem até certo ponto. Kant não poderia estar 100% certo.
Há outros pesos na vida.
O principal deles é quando começei a ser honesta comigo mesma.
Como é ruim dar de cara com seus porões, mas como é bom encontrar uma luz.
Ela pode não ser definitiva mas ajuda por agora.
E dependendo do lugar onde encontrar a luz, é possível ver o que está por perto. É preciso ter luz no porão inteiro, mas não funciona assim. Acende uma luz para apagar outra...nem sempre lembramos de todos nossos insights.
Os anseios que antes eram ser como todo mundo é, morreram.
Hoje sou eu, como mais ninguém é.
E o que mais desejo é acreditar piamente que sempre haverá um caminho a mais, uma curva não esperada que leve às flores numa encosta.
Não quero certezas, quero momentos bons.
E desejo não mais sofrer pelo sofrer dos quais eu amo, pois mudá-los não me cabe, nem me atreveria, mas estou por perto.
E o que levarei desta vida serão todos que passaram por mim, em mim.
Eu ficaria imensamente grata se eu conseguisse passar o que sinto quando eu olho nos olhos daqueles que estão à deriva, aqueles seres que amo e que perderam a esperança.
Sou tão deles e eles não querem nada de mim.
Não basta estar perto, é necessário ter a mesma paz.
Tem que se ver com o coração.

terça-feira, 30 de março de 2010

Utopias inacabadas (Parte 1 - por um bom tempo)



Eu gostaria que o relógio não tivesse sido inventado. Que não tivéssemos este suporte para nos mostrar, passo a passo, o mudar dos tempos. Mario Quintana dizia que o tempo é invenção da morte.


Eu não sei se concordo. Eu não encaro a morte. Nem penso nela. Ela é uma das poucas certezas que temos. Então, para que perder tempo "desperdiçando ilusões"?

Eu apenas queria que o tempo não fosse mensurado, que ninguém tivesse descoberto a correria. Eu queria que os eventos, os compromissos não fossem marcados, eu queria que tudo acontecesse na "hora certa", mas sem ser medida.

Eu queria liberdade. Eu aposto que amaria mais, que não teria tantos pré conceitos que insisto em dizer que não tenho. Eu sorriria mais eu acho...Na verdade eu queria que todos fossem anarquistas, mas que amassem antes disso, para que tudo fosse perfeito. Sei o nome disso: Utopia. Que seja!

Mais vale um sonho do que um desgosto, dizia minha avó!

O pior de tudo, é quando não se tem palavras para colocar no papel o que realmente se quer contar. Eu também queria que todos ouvissem a todos. Que ninguém se ofendesse por simples melindre. Eu queria que as pessoas fossem transparentes e que não conseguissem dissimular absolutamente nada, nem raiva, decepção, dor de dente, alegria, paz...

Eu também queria que todos tratassem bem a todos, sem descontar pendengas em qualquer um pela frente. Eu queria que os velhos errantes falassem mais e que nós, ainda jovens errantes, falássemos menos. Teria menos besteiras por ai. Começaria com minha besteiras.

Se um errante de 70 anos sentir o que eu sinto, deve saber se expressar muito melhor do que eu, mas eu não estou ouvindo ninguém...eu poderia aprender tanto...mas ele está tão cansado que escolhe não falar nada, ou talvez não seja escolha, seja medo.

Eu também queria que as crianças dessem palestras, todas elas. Meu filho acha que o céu é azul porque simplesmente é a cor mais linda e Deus deve adorá-la. Ele também me disse que as flores todas são irmãs e um dia, quando morrerem, voltam para a terra e viram minhocas que um dia também podem se transformar em borboletas. E sabe porque minhocas se transformam em borboletas? Porque quando eram flores, guardaram um pouco da tinta! Isso é poesia!!!

Eu também queria que ninguém competisse com ninguém. Que tudo fosse vitória, que a luta fosse sempre consigo mesmo e que o rival fosse nós mesmos, nossos limites, nada de olhar para o lado e tentar ser melhor que o vizinho.

Eu queria poder ser franca com todos, sem medo de ser mal interpretada. Eu acho que se amássemos uns aos outros incondicionalmente eu teria tudo isso. Mas não somos uma tribo, somos clãs, separados, competindo e correndo contra o tempo.

O fato é que não consegui, nem de longe, expressar o que eu queria! rsrsr

Mas um dia, quando eu tiver uns 70 anos, eu prometo que retomo este assunto. Faltam me palavras e vivência. Mas está aqui, dentro de mim, uma sentelha não sei do que. Mas aparecerá não sei quando. Não importa, vindo à tona já me basta.

Quanto às utopias:

Se as coisas são inatingíveis... ora!

Não é motivo para não querê-las...

Que tristes os caminhos se não fora

A mágica presença das estrelas!

Mario Quintana - Espelho Mágico

E assim caminha a humanidade...uns sentindo mais do que falando e outros falando mais do que pensando...rsrsr



sábado, 27 de março de 2010

Pedro Pedra

Ele nasceu no dia 5 de maio de 2003 em Florianópolis - Continente. Estava frio quando resolveu ganhar o mundo. Quase 3:30 da madrugada. Foram 10 horas de trabalho de parto, não era dor, era mais ansiedade. E como se movimentava esse menino, alíás, nada mudou...

Lendo um texto de Rubem Alves, que um amigo me indicou, a imagem da criança associada ao ninho quando dorme não saiu de minha cabeça. Ainda mais por estes tempos do julgamento de um caso que abalou o país. E então resolvi prestar atenção...não que eu nunca tenha feito isso mas a vida, a rotina da vida, tira-nos algumas preciosidades.

A última noite fiquei umas duas horas olhando meu filhote dormir e confesso: eu morrerei por ele se um dia for preciso. É o maior amor do mundo, é um carinho sem fim, é uma vontade doce de estar o tempo todo tocando, faz parte de meu corpo, é uma extensão de minha alma, sou eu em outro alguém. Pode crescer quanto quiser, será sempre meu pequeno, sempre encontrarei a carinha de bebê nos traços do então moleque...e assim será até meus ultimos dias por aqui.

Reconheço nele coisas minhas, coisas boas e ruins. Ouço dele idéias que eu teria, o que eu sinto ele sente e já nos comunicamos assim. Quando um aperto muito forte me invade e eu não sei de onde vem a angústia basta procurar por ele e saberei: caiu na escola, não dormiu bem, está com febre...

É um pedacinho de mim que cresce independente, é o maior amor de todos os tempos de minha vida. Ele foi a prova irrefutável de que Deus existe.

Eu sei também que ele não me pertence, que um dia será do mundo, não tem importância...ele veio por mim e isto já me deixa feliz. Ele já não é tão dependente de mim, não precisa me dar os braços para ir ao colo, ainda bem, ele tem 2/3 do meu tamanho e metade de minha massa. Já não dorme mais com ursinhos, mas ainda precisa de histórias e música. Que Deus preserve isso por mais um bom tempo. Ele pode não precisar tanto desse ritual para dormir, mas para mim é crucial.

Ah, meu Pedro Pedra Pedregulho...

terça-feira, 23 de março de 2010

Um divisor de águas

Houve um tempo que me interessava apenas pelo útil, algo que tivesse um propósito. O que julgava inútil era excluído sem a menor dor.

Durante uns 7 anos de minha vida tentei a música, não encontrei sentido, não pude senti-la.

Tentei a dança, não era aquilo que pensei, não me motivava, era vazio.

Tentei a pintura mas logo o tédio chegou.

Foi a vez da psicologia. Era falha demais. O que modelos comportamentais diziam de alguém? De onde eram estas teorias estranhas, sem correspondência com o real? Peugeot? Skinner? Freud? que história bizarra aquela de Anna Ó! Nada fazia sentido.

Precisava de algo útil, algo que me provasse o real a todo instante. Nestes tempos eu não lia poesia, nem poemas, nem contos...

Fui à exatidão, aos cálculos, vasculhei... Procurava ler o que era real. Histórias reais, almanaques de astronomia, métodos númericos, a evolução do ENIAC, as Redes Neurais artificias....Oh! Quanta realidade! Quantos deslumbrados...

E o tédio persistia....o vazio ainda estava lá.

Hoje sei que deveria ser uma forte depressão. Era falta de cor na vida. Ninguém me ensinou a buscar só utilidades, na minha vã filosofia do útil. Cresci assim, no meio de gregos e troianos, seguia lutando sozinha.

Apesar dos esforços, o vazio ainda existia e as provas já não eram provas, pois eu não sabia o que provar, nem me lembro mais quais eram as dúvidas, angústias...Mas me lembro do vazio.

Até que um dia, um divisor de águas se fez em minha frente. Não segui rio abaixo, desviei. Eu já não queria provas de nada, mesmo porque temos uma tendência de arrumar desculpas para refutar o que está às nossas vistas, então...

Com o tempo, voltei a rever aquelas coisas que desprezei e que hoje me alimentam.

Hoje sinto falta do meu velho violino 3/4 e me arrependo de tê-lo vendido, e daquele maestro que me colocou, de improviso, como spalla naquele dia, na apresentação da orquestra. Sinto falta do sapateado, como era lindo aquele ritmo, era a mais pura sensação de liberdade, como se o corpo ganhasse volume e estivessemos espalhados...

Saudades do pessoal da psicologia, aquele povo tinha olhos de ver almas. Quantas vezes me ouviram dizer que éramos um ábaco? Totalmente previsíveis? Para que modelos comportamentais? E quanta paciência tiveram comigo! Fui um material e tanto hein?
É no silêncio de cada um deles, naquela época, que hoje ainda aprendo.

Não me lembro como, nem do porquê, mas de uns anos para cá a música aperta meu peito e tira de mim as lembranças que talvez nem sejam dessa vida. Acredito que carregamos feridas passadas.

A arte da dança é o mais lindo reconhecimento deste nobre invólucro carnal emprestado pela natureza.

O ser humano é uma biblioteca, independente de modelos "behaviouristas", histórias de infância, ou da paixão doentia entre Freud e Anna Ó. Tudo é rico e repleto de amor, somos cada um, um universo.

Constatei isso quando aprendi a ouvir o que me contam. Como é bom vislumbrar da janela, o mundo do outro. Quanta generosidade!

Os extremos do antes, o incerto e o exato, já não estão separados, tudo está no mesmo lugar e não me preocupo em "etiquetá-los" mais.

Eu quero beber a vida até o último gole e que ninguém me avise sobre a chegada dele. Quero continuar o meu namoro com a filosofia, com o ser humano, com a poesia...esbarrei, no meio do caminho, com um incentivador, daqueles que falam com os olhos...tamanho é o brilho que têm.

Minha vida tem cor. Não tenho mais dúvidas, muito menos certezas. Apenas vivo como se acreditasse que essa fosse a última viagem. Estou feliz...bons ventos sopram.

Contrariando Drummond
Não Carlos, não vá ser gauche na vida!
Levanta a cabeça Carlos!

c. q. d.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Um dia me disseram que as nuvens não eram de algodão

Na Física, podemos falar que força interna não altera um sistema, isso quer dizer que se você estiver em alto mar, afogando-se, nem tente puxar a si próprio pelos cabelos, você não irá alterar o seu estado de "quase afogado", reze, tenha fé, mas não tente levantar a si mesmo, não dissipe energia à toa.

Será que no mundo das idéias, dos sentimentos, somos outro universo, submetidos à outras leis?Somos apenas um e alteramos sim o sistema? Basta termos as ferramentas, uma breve noção do mundo, da vida, uma breve história e muita resignação?

Mudar por dentro. Lutar internamente até unir forças e conseguir verbalizar, colocar em palavras nosso mundo interno não é tarefa fácil. As pessoas que conhecemos são peças essenciais para essa exteriorização. Não somente por serem queridas, especiais ou fabulosamente diferentes de nós, mas principalmente por ajudar a nos localizarmos no mundo. São os ajustes finos da vida, do caminhar, nada seria igual se não interagíssemos com as pessoas. Elas nos mostram quem somos, é no ajuste de referencial que nos descobrimos.

Cada um de nós é um universo à parte, submetidos às leis da interação com as pessoas. Força interna nenhuma altera o sistema. Não somos mesmo um ilha, ou uma gaiola de Faraday, somos errantes, como adoro mencionar e somos dependentes uns dos outros, no que diz respeito ao nosso lugar no mundo, e isso é ótimo.

Sistematizar a vida e o processo de auto conhecimento tal como uma bula de remédio é impossível. Se esta necessidade fosse uma doença, as pessoas seriam o método paliativo, mas não haveria cura. Mas o querer fazer e a tentativa é uma bela motivação para viver.

Os poetas sistematizam a alma, o coração, as relações humanas e colocam no papel, à luz de seus métodos, o que as lutas internas produzem. Enquanto não defino um método, fico com a poesia dos outros errantes.

E desde já, sou eternamente grata às pessoas que, como eu, amam ternamente, incondicionalmente...

As nuvens não são de algodão, são moléculas de água em gelo ou vapor, simplesmente assim. Mas para os poetas elas são a marca do passar do tempo...nuvens passageiras, ou mesmo o símbolo de algo efêmero...prefiro assim.


Jaedson, dedico esta postagem à você especialmente, por contribuir intensamente ao meu "método de ajuste". Muita luz em seu caminho. Contarei sempre com você.


VCR

sexta-feira, 5 de março de 2010

Estou farta...

Estou farta da falta de liberdade e da educação polida que nos leva à hipocresia....

Eis uma compreensão:

Poética (Manuel Bandeira)

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor.
Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário o
cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas.

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de excepção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que captula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário
do amante exemplar com cem modelos de cartas
e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.

Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare
- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.


OBS: Um amigo me disse por estes dias que ser louco seria vantagem...concordo!
VCR

quinta-feira, 4 de março de 2010

É necessário o caos....

"Navegar é Preciso
Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
"Navegar é preciso; viver não é preciso".
Quero para mim o espírito [d]esta frase,
transformada a forma para a casar como eu sou:
Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande,
ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade;
ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.
Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue
o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça."

Fernando Pessoa


Quem possui dentro de si um turbilhão de sentimentos e vontades e medos e dúvidas e desejos...sabe o que significa navegar...viver já virou inércia!



domingo, 21 de fevereiro de 2010

A metamorfose

"Quando Gregor Samsa despertou uma manhã na sua cama de sonhos inquietos, viu-se metamorfoseado num monstruoso insecto".
Franz Kafka (1915)

Esta é a história de um homem que acorda transformado numa espécie de barata gigante e tem sua vida modificada pela total falta de controle em que se encontra. Trancado em sua própria casa, acuado pelos familiares e vitima de si mesmo, da visão errada que tinha do mundo que vivia antes da mudança, percebe que foi apenas ele que mudou, o mundo sempre foi assim.

Esta obra identifica a mudança de um homem diante da sociedade. Franz Kafka conseguiu retratar que as mudanças de compreensão do mundo resulta numa realidade não percebida antes, mas que estava sempre ali. E quando isso acontece, é inevitável querer gritar e modificar tudo que está em volta.

O período de latência pelo que passa o ser humano nada mais é do que a fase de assimilação de informações. Nosso cérebro e sua natureza plástica nos proporcionam o aprendizado, com nossas experiências absorvemos dados e conseguimos modelar algumas situações através do processo de generalização e isso leva muito tempo, há aqueles que nunca chegam a esse caminho. Em suma, somos colecionadores de fatos, processamos informações e quando estamos maduros o suficiente encontramos algo que nossas experiências determinaram. Com um certo arsenal estabelecido, estamos prontos para algo...

Paradigmas são quebrados, visões são conhecidas, temos uma certa noção do que sabemos pouco e do que sabemos nada. Eis a formação da personalidade. Sabemos quem somos, e o que queremos mas não há palavras para verbalizar, talvez a poesia seja o meio, eis porque tantos poetas e como são incríveis, compreendemos suas obras com a alma, não com a razão.

O que sentimos é algo interior, está no âmago de cada um, no id, e ficamos tão confiantes quanto ao que queremos que anulamos o superego e adeus censura, é tempo de arriscar.

A linguagem humana é muito pobre diante dos nossos pensamentos. Quando a metamorfose ocorre, não temos como listar os impactos que surgem em nossas visões, mas sabemos que algo mudou, que está bem ali, na ponta da língua, na memória recente, não há pudores em discordar...chega de meias verdades...é tempo de fazer algo que seja novo...colecionar informações sempre será necessário, o aprendizado é dinâmico, tudo se expande, mas chega de convencionalismos, não acreditemos em tudo, nem duvidemos...Qual o problema em ficar em cima do muro enquanto não tivermos certeza? Sejamos analíticos.

Quando o tempo chega é hora de ser ativo, de banir com conceitos pré concebidos e seguir com personalidade. Se errar, aprenderá , se acertar, aprenderá da mesma forma. Não há por que ter medo.

Quando ultrapassamos certa fase da vida em que uma nova concepção de mundo surge em sua frente, acredito que é devido o encontro de sua razão de ser, o reconhecimento de suas habilidades, suas paixões, seus anseios, os medos reais e a grande vontade.

A verdade é que mudamos, e como os insetos que crescem em degraus, de uma hora para outra, nossa maturidade deve ser assim, de repente, ao amanhecer, somos outros...

Compreendo agora, depois de ler o livro A metamorfose pela terceira vez. A primeira, quando ganhei o livro, em 1998...achei estranho, pra não dizer que não entendi nada. A segunda vez em 2000...nada. A terceira, final de 2009...eureca!

Eis nossos saltos...somos assim, cada qual com suas especificidades e gritos abafados. Cada qual com sua hora de gritar...as vezes sem ao menos saber o que gritar, e para qual direção, a vontade está ali...é isso que importa.

Bom grito à todos!
VCR

(Imagem: Quadro de Salvador Dali - A metamorfose de Narciso, Fonte: http://www.filosofia.com.pt)

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Scientia X ópio

Ciência, palavra grandiosa, do Latim Scientia, estar ciente, saber, ter conhecimento.
Deste exercício surgem os Cientistas, os que promovem o saber.
Foram muitos...Aristarco, Ptolomeu, Copérnico, Galileu, Kepler, Newton, Einstein, Planck...e muitos outros que admiravam tudo ao seu redor e faziam grandes perguntas...quantas dúvidas, angústias, incertezas...
E assim, o mundo era aos poucos explicado, humanamente explicado...dentro dos nossos limites.

O homem de Ciência não era pago para produzir conhecimento...o conhecimento era seu ópio, um deslumbramento sem precedentes...encontrar indícios de uma resposta era ainda melhor que encontra-la propriamente...as dúvidas são combustíveis.

Einstein, considerado o maior gênio da Humanidade, começou suas indagações ainda muito jovem, pôde se dedicar mais aos deslumbres do conhecimento quando foi contratado por um escritório de patentes em Berna...de dia trabalhava mecanicamente...à noite dedicava-se às divagações com grandes amigos sobre o mundo que via e não via...
Publicou apenas 3 artigos científicos...apenas 3...e ninguém ousa dizer que fez pouco...seus exercícios mentais deixaram arsenais inteiros que sustentam a Física até os dias de hoje.

Há pesquisadores espalhados pelo mundo tentando provar que ele estava errado quanto a uma tal de constante cosmológica...não faço a menor idéia se ele estava errado ou não, apenas me preocupo com o propósito da investigação, será vaidade? Eis um novo tipo de ópio.
Há casos de pesquisadores que se contradizem para se manter na vanguarda, não são todos...claro, se fossem todos o barco já teria afundado.

E existem ainda aqueles que julgam terem chegado a um fim grandioso, um resultado perfeito, não há nada para ser feito, o trabalho está completo.
Um geneticista norte americano publicou um artigo numa das mais importantes revistas científica do mundo e afirmou categoricamente algo nesta linha: "a genética humana já evoluiu tudo que tinha para evoluir, somos seres especializados, as doenças são parte da seleção natural, os fracos serão abatidos..."
Que triste! Acredito que agora ele pode se aposentar...

Éramos coacervados...a vida iniciou-se por uma sopa orgânica caótica...hoje somos seres complexos e...paramos de evoluir?
A grande explosão que deu origem a tudo aconteceu há 13,7 bilhões de anos, a forma mais primitiva do homem surgiu há 3 milhões de anos. Se fizermos um paralelo de que a origem do Universo tem um mês de idade, o homem tem aproximadamente 10 minutos de vida (Se não errei nas contas). Quem nos garante que um dia a humanidade não possa ser formada por seres azuis de antenas?
Somos pequenos demais para batermos o martelo...julgar algo finalizado é meramente explicado pela necessidade de aumentar a massa crítica das plataformas curriculares...(Repito, Einstein publicou apenas 3 artigos...)

Só espero continuar pensando que aprender é a resposta...se um dia eu bater o martelo para algo, por favor, ignorem-me...não deixem que minha voz ecoe por ai...
Não quero ser paga para fazer pesquisas...quero receber o suficiente para me manter dignamente, ter paz, segurança, para poder fazer a diferença...todos tem um propósito que está na alma...que minhas vitórias não sejam exaltadas, mas que tenham serventia, que a vaidade não seja meu ópio.

E que assim seja...
(VCR)

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Brevemente, onde estamos

Via Láctea, apenas uma dos milhões de galáxias que compõem o Universo.
Dentro dela, 8 planetas, vários corpos menores chamados planetas anões, mais de 140 satélites, bilhões de asteróides e cometas.
No centro de todos estes errantes, o Sol, válvula mestra do nosso sistema planetário.
E nós?
Nós estamos num "pálido ponto azul" chamado Terra, uma massa rochosa cheia de vida.
A Terra não é o maior planeta, nem o menor deles e está em completa harmonia junto aos demais há cerca de 4,6 bilhões de anos. Não moramos no submundo da galáxia, nem no maior Reino.
Desconsiderando umas dezenas de astronautas, são 6 bilhões de seres humanos sem qualquer noção da dimensão da nossa casa, de como é o mundo lá fora...(O que você sentiria diante da Terra, azul, na sua frente...ali, depois do vidro?).
A natureza nos colocou neste orbe por alguma razão e nossa pequenez diante do Universo é assustadoramente bela. Viemos parar aqui através da evolução e assim prosseguiremos, evoluindo, aprendendo, lançando os "últimos voos"* sempre...não haverá fim enquanto estivermos por aqui.
Nossa maior missão: aprender desbravadamente!
"Fomos errantes desde o início"**...o que achamos que sabemos não ultrapassa os limites por nós mesmos colocados...aprender será sempre a resposta...
O Universo está em expansão...sigamos a sua inércia...cresçamos também....como ir contra um Gigante?

**Frase retirada de "Um pálido ponto azul" (Carl Sagan, 1994).
(VCR)