sexta-feira, 5 de março de 2010

Estou farta...

Estou farta da falta de liberdade e da educação polida que nos leva à hipocresia....

Eis uma compreensão:

Poética (Manuel Bandeira)

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor.
Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário o
cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas.

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de excepção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que captula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário
do amante exemplar com cem modelos de cartas
e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.

Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare
- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.


OBS: Um amigo me disse por estes dias que ser louco seria vantagem...concordo!
VCR

2 comentários:

  1. "Eu vejo tudo claramente,
    Com os meus óculos de grau,
    Loucura é quase santidade,
    E o bem, meu bem, pode ser mal"

    (Zeca Baleiro)

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  2. Salve!
    Olha, realmente o Flor de Lótus está cumprindo a missão a que se propôs. É a revolução silenciosa, por meio da palavra apenas. Associo-me à sua maneira de pensar. Mais uma vez, parabéns.
    Abraço.

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