quinta-feira, 22 de abril de 2010

Tempo meu

Manhãs, recomeços, promessas, mudanças...
As horas passam...o entardecer trás os destroços...
Silêncio...paliativo, o tempo, a cura.
As noites, más conselheiras, tempo relativo, expansão d'alma, viagem perigosa.
Deficiência química? Dor n'alma?
Seguem os dias...
É possível desconhecer a si próprio?
O que falta?
Qual a dor?
O que é preciso?
Seria a crise do "meio do caminho"?
Sabe-se a direção, mas não o destino.
Há dias de luz...e dias de sombra.
Sombras, não se sabe o quanto vale sem a luz.
Tempo, tempo, tempo...
Eis o que tenho de meu, inalienável.

PS: Pintura "O grito" de Edvard Munch, feito aos 30 anos de idade do pintor, retrata a decepção que enfrentava quanto aos fatos gerais da vida.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

O silêncio


Arruma a desordem, acalma, revigora.
É saber que o tempo auxilia o encontro de paz.
A melhor estratégia para amenizar conflitos.
Palavras jogadas ao vento reverberam. 
Nada como o silêncio que acalma, apazigua, esclarece.
Eu li em algum lugar "é preciso calar para falar", não me lembro onde.
Eis um fato.
Cale-se na hora exata e terá dito muito. 
É no silêncio que os ruídos internos se fazem ouvir. 
É dessa forma que o julgo falso se mostra.
É, sem dúvidas, que entre tropeços que o homem olha mais para o chão, menos para o céu. 
Mas é em silêncio que conclui. 
O silêncio é democrático.
Não pede nada, não induz, não castiga.
É libertador, companheiro, cúmplice.
É um bálsamo.
É a visão real, sem pesos e julgamentos.
É a calmaria.
É o porto seguro, o colo de mãe.
É uma oração, sem pedidos.


segunda-feira, 12 de abril de 2010

Superficialidades

Como é triste estar diante de um ser vazio.
Vazio de amor, de compaixão, de esperança, de honestidade, de benevolência.
Como eu queria que estas pessoas olhassem para dentro de si e conseguissem ver o que falta.
Eu sinto dor pela dor que causam.
Pessoas por cima da carne, apenas carne por dentro, nada mais...
E como não bater de frente com as superficialidades que tentam te fazer engolir?
Como apenas só balançar a cabeça e concordar diplomaticamente com absurdos que só um ser humano superficial poderia dizer?
Não sei deixar "passar", não sei me calar, não consigo ignorar e muito menos me conformar pelo desamor de muitos.
As aparências, nada mais.
Como é difícil conviver com pessoas assim.
Mas o que tanto me incomoda além do tal desamor às pessoas?
Acho que também a falta de resgate. Sim, quando respeitamos às pessoas, sentimos um processo de resgate, sabemos o valor da história e dependente do que nos digam, o que você ouve muitas vezes é questão do histórico de cada ser humano.
Não tem como não respeitar a história de vida de cada ser. Não tem como sentir indiferença pelo ser humano.
Eu me questiono se essas pessoas que apenas gostam de "ter" e não "ser" podem ser chamadas de seres humanos!
Revolto-me com os hipócritas, os diplomáticos vazios, os ditadores de algo nada válido. Ditadores da superficialidade.
Convivo com muitos deles e não consigo deixar de me incomodar, sou humana, falível, tenho sangue nas veias, e ele ferve a cada golpe cruel.
Eu não me calo, eu ouço e analiso e quando vejo fel eu me defendo como deve ser.
Estou cansada de caras e bocas. Quero almas, quero pessoas de verdade, aquelas que olham nos olhos e deixam se levar pela emoção de admirar ou se indignar por algo.
Cansei dos ensaios dissimulados dos vazios, dos seres superficiais que cruzam sempre nossos caminhos.
Meu maior defeito pode ser dar muito valor para eles, mas o fato é que se eu pudesse, faria deles algo melhor, se eu também o fosse.
Odeio desistir das pessoas, nunca faço isso, mas me corroo por dentro, luto contra meus "brios" e sigo em frente.
Deixarei o olho do furacão passar...o rastro é inevitavel.


Todas as calamidades que vemos acontecer é fruto do abandono, da crueldade, da falta de compromisso, da corrupção.
É o desamor imperando entre os maiores. Estamos à deriva.
E tenho a triste impressão de que por onde andamos, a maior parte das pessoas, principalemente as que detêm algum tipo de poder público, são superficiais. Agem pelas aparências, fazem para serem lembrados, falam muito para serem notados...nada mais.

Hoje, posso ter exagerado no fel.
É fácil ser radical quando se está sangrando.

Te encontro enfim


Há vários tipos de solidão.
A mais radical de todas elas é quando se está absolutamente só, sem ninguém por perto.
Há outra, a que não adianta estar acompanhado, vive-se só por não ter alguém específico e como ninguém é substituível, acaba-se concordando que está só.

Mas tem outro tipo ainda, que conheço bem.
A solidão sorrateira, aquela que nos dá a aparência de estarmos muito bem amparados, pois o "alguém específico" está ali perto.

O estar perto pode não significar muita coisa. Principalmente quando o alimento das almas são muito diferentes.

Sofro da solidão sorrateira, quando eu menos espero ela se faz presente e vejo o quanto estou sozinha. Não se trata de um exemplo, trata-se de um estopim, a gota d'água. Quando isso acontece, constrói-se uma cicatriz. Pode ela permanecer fechada, mas na menor das doenças d'alma, ela se revigora e volta a doer. 

Sentir-se só dessa maneira não é questão de capricho, é como se abríssemos uma gaveta de várias solidões passadas e não resolvidas, para acrescentar mais uma, e então, vemos todos as outras que estão guardadas...

Mas há sempre um consolo, ou uma explicação:

"Enquanto não superarmos
a ânsia do amor sem limites,
não podemos crescer
emocionalmente.

Enquanto não atravessarmos
a dor de nossa própria solidão,
continuaremos
a nos buscar em outras metades.
Para viver a dois, antes, é
necessário ser um."

Fernando Pessoa



quinta-feira, 8 de abril de 2010

Intolerância-fria

"A lei de ouro do comportamento é a Tolerância mútua, já que nunca pensaremos todos da mesma maneira, já que nunca veremos senão uma parte da verdade e sob ângulos diversos".

Mahatma Gandhi


Houve um tempo em que a tolerância nem era definida, pois a prática não existia, então qual o porquê de defini-la?
Esse tempo foi marcado por atrocidades, assassinatos...Quem nunca ouviu falar em Inquisição?
Quantas obras se perderam queimadas no fogo da intolerância?
Galileu só não foi morto por causa da ajuda de um amigo bispo influente, pois fora obrigado a pedir perdão à Igreja por ter "pecado" e colocado o planeta Terra num lugar subordinado ao Sol.

E hoje giramos em torno do sol, naquela época não, era o sol que girava em torno da Terra.
E foram muitas as Inquisições, todas com o desejo ardente de calar àqueles que de alguma forma eram vistos como ameaça à instabilidade de alguma estrutura politica, social ou religiosa.

A inquisição acabou em partes: pelo menos não sabemos de casos de pessoas que são queimadas na fogueira ou listas de livros proibidos...opa...isso existe sim! Não sabemos de casos de queimados ou mortos, eu disse "não sabemos", o que não sisgnifica que não exista. Mas muitos livros proibidos de antes, ainda são proibídos hoje e muitos estão em poder da Santa Igreja Católica!!!

Há também relatórios do exército brasileiro sobre sei lá que estudos (E. T?) e que são de direito do conhecimento da população, mas que nada....tudo preso dentro dos exércitos...pelo menos é o que dizem.

A inquisição existe sim, e não só em forma de textos proíbidos, e podemos chamá-la de Inquisição-fria. É como a Guerra. Horrores aconteceram e depois que a Guerra acabou as coisas continuaram por debaixo dos panos. Começou a Guerra-fria. Período tenebroso em que não se sabia ao certo o que estava acontecendo, silêncio demais.

Podem falar o que quiserem sobre teoria da conspiração. Não se trata disso.
O fato é que existe a Inquisição moral. A forma como as pessoas podem defender idéias pode fazer surgir, em seu oponente, uma força visceral de combater uma idéia.

É muito bonita a filosofia de que temos liberdade de expressão, mas não é bem assim, sempre há um preço a se pagar, principalmente quando se vai contra os dinossauros, contra os donos da bola.

Imagine alguém fantasiado de vaca invadindo o prédio da ONU gritando que nós não somos culpados pelas Mudanças Climáticas!
Corra atrás dos Criacionistas e fale que Darwin era genial e sacou tudo!
Diga aos católicos que o santo sudário tem a cara de DaVinci e não de Jesus!
Vá à Barretos, numa festa de rodeio, e grite no microfone que rodeio é coisa de acéfalos!
Fale às pessoas que você acha que os animais possuem senciência!
Apoie o bem-estar animal!
Defenda uma árvore em praça pública!
Recite um poema no metro, na hora do rush!
Afirme aos ortodoxos de uma área estagnada que a técnica utilizada é ultrapassada!

Arrisque-se para ver o preço que pagará. Quando se diz a poucos, num pequeno grupo conhecido, as máscaras se mantêm.
Quando se diz para uma maioria que se opõe ao que você pensa, acredite, suas chances de ser trucidado são altas. Quando um só ouve, nada poderá sofrer. Mas quando muitos param para ouvir o que não concordam algo acontece, eles ganham força e a alimentação recíproca dos egos cegam a todos e surge o inevitável: a intolerância que antes estava presa por não encontrar força suficiente para se mostrar!


Estamos na época da Inquisição fria, movida pelos egos inflados dos intolerântes às opiniões contrárias. Não consigo entender se estas pessoas realmente acreditam  cegamente no que pensam, ou se não podem mais mudar de trajetória, não podem atestar que erraram, ou não querem ficar no grupo da minoria.

O meu "termomêtro" para identificar um "crente ortodoxo" e nada liberal é a paixão em tentar nos convencer do contrário.

"A razão é filha do tempo e tudo espera de seu pai."
Voltaire                               

Eu não preciso de certezas, não abraço nenhuma delas, apenas traço esboços, só não abro mão do tempo.
                           


domingo, 4 de abril de 2010

Um pequeno paralelo de uma grande Filosofia

Um vasto campo, pronto para ser semeado. Receberá sementes de uma erva rara capaz de curar, de produzir conhecimentos, de dar prazer, esperança, caridade, paz e tudo o que for necessário. A erva mais importante de todos os tempos.

O trabalho foi duro, dias de semeadura de sol a sol, tinha que ser assim, é condição inicial para que tudo dê certo. Foram muitas mãos, muito sangue e suor.

O tempo passou e o crescimento era lento, muito lento, anos se passaram. Desde o início foi feito de tudo para que as ervas brotassem sadias, fortes. Não havia nada que pudesse atrapalhar. A terra foi analisada para que não houvesse nenhuma contaminação e as grandes e fortes mãos "viram" que aquela terra era virgem, pura, não continha nenhum cisto que pudesse dar origem a doenças ou ervas daninhas.

O controle de qualidade inicial foi exemplar. Mas nada disso impediu que as sementes brotassem de forma diferente uma das outras. Muitas fizeram juz ao investimento do início, outras, não se sabe quantas, sofreram mutação, ou nasceram assim. O fato é que eram diferentes e nada disso foi planejado.

Todas as sementes tinham a mesma aptidão para a manifestação de certas propriedades benéficas, mas não foi assim que aconteceu.

Passado o susto inicial, as grandes mãos se reuniram. Com muita sobriedade e organização conseguiram identificar três soluções para que a colheita pudesse ser feita no futuro.

A primeira solução era retirar imediatamente da terra, as ervas modificadas. Mas alguém disse: "não será rápido, teremos muito trabalho pois não temos a garantia de conseguir e não sabemos quantas são, podem ser mais ou menos do que conseguimos ver. E também, retiraríamos muita cobertura da terra caso o número seja grande, o que acarretaria problemas para as ervas sãs, e se forem em pequeno número, demoraríamos muito tempo a percorrer toda a terra para descobrir que não se passa de número pequeno, nada ameaçador". Todos concordaram. Essa opção foi descartada.

A segunda opção era esperar que cresçam e na colheita fazer a separação. As ervas boas seriam utilizadas para novas populações e as ervas mutantes seriam queimadas, para que não houvesse contaminação de outras terras. Mas alguém disse: "tinhamos certeza de que as ervas eram puras e no entanto houve essa mutação. Quem nos garante que isso não está dentro delas? Isso provavelmente irá acontecer sempre, precisamos apenas saber qual a porcentagem dessa ocorrência. Lembrem-se que o solo era puro, e tinhamos certeza, portanto, economizemos nossas forças e nossas chances de mudanças, pois essas ervas que agora nos parecem nocivas podem ter alguma serventia". Todos concordaram novamente. Não seria cabível queimá-las. É um novo material, digno de ser estudado.

A terceira e última opção era que deixassem as ervas crescerem juntas e que colhessem apenas o que precisassem. Pois um dia, alguém mencionou, as mais fortes irão excluir as mais fracas e se por algum motivo as duas se equivalerem em termos de domínio da terra, é hora de verificar se a terra era mesmo pura, ou se as ervas são realmente tão diferentes assim, pois as aparências enganam a maior parte das vezes e isso pode ser um indício de pré conceitos. Dessa forma, as mãos responsáveis escolheram essa opção.

E cá estamos nós, crescendo todos juntos. Ainda não sabemos que tipo de erva somos, uns julgam serem ervas puras, outros preferem não questionar. O fato é que nem conseguimos saber se estamos na bancada da maioria, e o melhor de tudo é que deixaram a gente por aqui com uma carga generosa do tal do "livre arbítrio".

Tem muita erva sendo colhida, ainda mais em épocas de calamidades...e quando chegar a minha hora, espero ter feito bom uso do tempo que me foi dado. E verei qual será minha serventia e de qual semeadura participarei.

um paralelo apenas...bem pequeno...sem detalhes...




quinta-feira, 1 de abril de 2010

Invisível aos olhos

Quando me vi de longe, percebi o quanto não sou aquelas de lá.
Foram pessoas passando, épocas passando e medos vencidos.
Há medos persistentes, dores que não acabam, lembranças que doem sempre.
Fui muitas numa vida só.
Quebrei meus próprios paradigmas, utilizei da vida e me construi aos poucos.
Construi o que hoje sou, nada de perfeito, nada finalizado.
Mas vejo um pouco mais do que via antes.
Já não tenho tanta ansiedade como tinha em outros tempos.
Consigo pensar mais antes de agir.
Já não fico eufórica diante de uma ótima notícia, eu busco a estabilidade, pois tudo é efêmero.
Hoje choro mais, amo mais e falo mais às pessoas o quanto gosto delas.
Quando olho para aquelas que se foram não as reconheço.
Eram repetições do meio.
O meio determina o homem até certo ponto. Kant não poderia estar 100% certo.
Há outros pesos na vida.
O principal deles é quando começei a ser honesta comigo mesma.
Como é ruim dar de cara com seus porões, mas como é bom encontrar uma luz.
Ela pode não ser definitiva mas ajuda por agora.
E dependendo do lugar onde encontrar a luz, é possível ver o que está por perto. É preciso ter luz no porão inteiro, mas não funciona assim. Acende uma luz para apagar outra...nem sempre lembramos de todos nossos insights.
Os anseios que antes eram ser como todo mundo é, morreram.
Hoje sou eu, como mais ninguém é.
E o que mais desejo é acreditar piamente que sempre haverá um caminho a mais, uma curva não esperada que leve às flores numa encosta.
Não quero certezas, quero momentos bons.
E desejo não mais sofrer pelo sofrer dos quais eu amo, pois mudá-los não me cabe, nem me atreveria, mas estou por perto.
E o que levarei desta vida serão todos que passaram por mim, em mim.
Eu ficaria imensamente grata se eu conseguisse passar o que sinto quando eu olho nos olhos daqueles que estão à deriva, aqueles seres que amo e que perderam a esperança.
Sou tão deles e eles não querem nada de mim.
Não basta estar perto, é necessário ter a mesma paz.
Tem que se ver com o coração.