quinta-feira, 1 de abril de 2010

Invisível aos olhos

Quando me vi de longe, percebi o quanto não sou aquelas de lá.
Foram pessoas passando, épocas passando e medos vencidos.
Há medos persistentes, dores que não acabam, lembranças que doem sempre.
Fui muitas numa vida só.
Quebrei meus próprios paradigmas, utilizei da vida e me construi aos poucos.
Construi o que hoje sou, nada de perfeito, nada finalizado.
Mas vejo um pouco mais do que via antes.
Já não tenho tanta ansiedade como tinha em outros tempos.
Consigo pensar mais antes de agir.
Já não fico eufórica diante de uma ótima notícia, eu busco a estabilidade, pois tudo é efêmero.
Hoje choro mais, amo mais e falo mais às pessoas o quanto gosto delas.
Quando olho para aquelas que se foram não as reconheço.
Eram repetições do meio.
O meio determina o homem até certo ponto. Kant não poderia estar 100% certo.
Há outros pesos na vida.
O principal deles é quando começei a ser honesta comigo mesma.
Como é ruim dar de cara com seus porões, mas como é bom encontrar uma luz.
Ela pode não ser definitiva mas ajuda por agora.
E dependendo do lugar onde encontrar a luz, é possível ver o que está por perto. É preciso ter luz no porão inteiro, mas não funciona assim. Acende uma luz para apagar outra...nem sempre lembramos de todos nossos insights.
Os anseios que antes eram ser como todo mundo é, morreram.
Hoje sou eu, como mais ninguém é.
E o que mais desejo é acreditar piamente que sempre haverá um caminho a mais, uma curva não esperada que leve às flores numa encosta.
Não quero certezas, quero momentos bons.
E desejo não mais sofrer pelo sofrer dos quais eu amo, pois mudá-los não me cabe, nem me atreveria, mas estou por perto.
E o que levarei desta vida serão todos que passaram por mim, em mim.
Eu ficaria imensamente grata se eu conseguisse passar o que sinto quando eu olho nos olhos daqueles que estão à deriva, aqueles seres que amo e que perderam a esperança.
Sou tão deles e eles não querem nada de mim.
Não basta estar perto, é necessário ter a mesma paz.
Tem que se ver com o coração.

2 comentários:

  1. Salve, Valéria!

    Em cada novo texto seu, vejo uma nova vida. São certezas de que ela está se renovando a cada amanhecer. Muito bom isso.

    Belo texto. Prossigamos. Um abraço!

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  2. "Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos."

    (Antoine de Saint-Exupéry)

    Disse a raposa despedindo-se do principezinho, que deitado na relva chorou.

    Pessoas grandes deveriam se lembrar sempre disso!

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